O guerrilheiro norte-rio-grandense Glênio Sá. Um acidente
automobilístico interrompeu a vida de um homem dedicado a causa
popular. Era candidato ao Senado, pelo Partido Comunista do Brasil -PCdoB.
Homem de coragem e enorme confiança no futuro socialista do mundo, atuou na
linha de frente da resistência à ditadura militar. Construiu uma trajetória de
mais de 24 anos de luta política-partidária no PCdoB.
Jana Sá é jornalista e filha de Glênio Sá. Partilho com os leitores
o artigo que ela escreveu para a data. Glênio não é um mártir e sim um herói. A
história do Brasil está coalhada de gente dedicada ao bem comum e lutas
revolucionárias como Glênio.
Sou daqueles que julga necessário falar das “velhas” coisas,
particularmente da trajetória de luta revolucionária no Brasil e no mundo.
Sempre haverá um número substancial de gente “nova” que precisa saber das
“velhas” coisas.
Vinte anos sem Glênio Sá
* Por Jana Sá
* Por Jana Sá
A exemplo do 26 de julho de 1990, a cidade amanheceu triste, com seu
brilho ofuscado. Parece chorar com a lembrança da dor sentida pelo povo
brasileiro, em especial, os norte-rio-grandenses, quando um triste e mal
explicado acidente automobilístico interrompeu a longa jornada de luta travada
durante 24 anos por Glênio Sá. Também pudera, ainda hoje se sente a lacuna
deixada por este combatente que na luta por uma sociedade democrática e livre
colocou à disposição toda a sua sabedoria e experiência.
Glênio não apresenta nenhum traço espetacular. A imagem de sua
coragem, paciência, carinho e compreensão se contrapõem a dos seres especiais,
que se colocam acima das multidões apresentadas como ignorantes e indefesas,
superam os limites impostos pelas leis da natureza, operam prodígios por sua
força superior e fazem valer a ordem e a justiça. A lembrança que guardo do pai
doce, calmo e calado nem de longe se assemelha à de um herói burguês, que não
chora, não ri, não ama, nem amigos nem família fazem parte de suas
preocupações.
Era um homem simples, como foi a sua vida, pois não se importava em
abdicar das benesses de sua vida pessoal em prol da luta pela felicidade do
povo e pela liberdade. Reconhecia as suas fraquezas e, na convivência com o
povo e com seus camaradas, buscava a força.
Em sua ação consciente, sabia que ser comunista era uma opção
cotidiana e não apenas um ato de proclamação solene e de comprometimento
formal. Era antes e acima de tudo uma transformação real e consciente nas
idéias e práticas, no comportamento ideológico e moral, na elevação do nível de
compreensão política e das aptidões práticas, no desempenho das atividades
partidárias e das responsabilidades.
Tenho dele o retrato do heroísmo do povo que anonimamente faz a
história, sem pretensões e muitas vezes sem ter plena consciência do seu valor
e da proeza de construir e mudar o mundo.
Hoje, compartilho com os que conheceram o meu pai, com todos os
brasileiros patriotas, especialmente com os potiguares, o sentimento da
saudade, do reconhecimento e da falta de alguém que, para mim, ainda é vida e
que jamais partiu.
*Jana Sá, jornalista e filha de Glênio Sá
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